Com
trabalhos em ficção (“Jonas”) e documentário (“Alvorada”, codirigido
com Anna Muylaert), a cineasta Lô Politi, define o tema de seu segundo
longa narrativo, SOL, como universal. “Todo mundo tem uma história com o pai, com o filho, história de família”,
explica. É nessa questão que o filme encontra sua força: os laços entre
pais e filhos, que se afrouxam e reatam. De forma potente e poética, a
diretora, que também assina o roteiro, coloca em cena três gerações de
atores: o brasiliense Rômulo Braga (“Valentina”), o paraibano Everaldo
Pontes (“Noites de Alface”) e a menina baiana Malu Landim. O
filme, que faz sua estreia na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São
Paulo, e, no circuito cinematográfico, no início de 2022, traz a
história de Theo (Braga), um homem tentando reatar conexões de sua vida.
Depois de um ano sem a ver, ele está novamente com sua filha pequena,
Duda (a estreante Malu Landim), mas o passado bate à sua porta. Ligações
insistentes, de uma desconhecida, avisam que seu pai, Theodoro
(Pontes), está em estado delicado num hospital, numa pequena cidade do
interior da Bahia. SOL
descortina aos poucos a relação tumultuada entre Theo e Theodoro, que
não se veem há muitos anos. O rapaz, em companhia da filha, se sente
obrigado a viajar para se despedir do pai, mas uma surpresa acontece: a
saúde dele melhora, e, agora, que o pai não tem mais onde morar – ele
vendera a casa – o filho terá de encontrar uma saída para isso. Ao
mesmo tempo, o avô acaba se apegando à neta que não conhecia, o que
também revigora a relação entre o pai e a filha. Na investigação da
dinâmica entre as gerações de uma mesma família, a diretora e roteirista
se aprofunda em questões psicológicas de seus personagens, até culminar
num final surpreendente. “Mais que uma história de abandono, esta é
uma história de desconexão. A grande história não é a de pai e filho,
mas de pai e filha. Ele precisa encarar o abandono e a desconexão com o
pai para, ao fim, se reconectar com a filha. Ele precisou passar por
tudo isso. A gente acha que está vendo uma história da origem dele, mas,
na verdade, ele não está conseguindo se conectar com quem está do lado
dele, que é a própria filha. Ele faz com a filha exatamente o que o pai
fez com ele.”. A
produtora Eliane Ferreira (“Cine Marrocos”, “Vermelho Russo”), da
Muiraquitã Filmes, destaca que o longa é inovador ao trazer um olhar
feminino ao universo masculino. “Até pouco tempo, eram homens diretores
que contavam histórias de mulheres. E ao final, quem traz a
possibilidade de que o homem entre em contato com suas emoções é uma
mulher, quer dizer, uma menina. É um filme único por sua forma de
revelar o que a separação também provoca no homem, que encara também a
dificuldade de retomar a própria vida.”. Sobre
seu trabalho, Ferreira explica que costuma estar muito próxima dos
diretores. “Lô preparou muito bem o filme. Fez um photobook do filme,
toda esta preparação ajudou muito. E isso era necessário porque, para o
cinema independente, se não for assim, não é possível realizar”, explica
a produtora.”. Como
cenário, a diretora queria uma Bahia que fugisse das grandes paisagens
turísticas, e, para isso, trabalhou com o diretor de fotografia
pernambucano Breno Cesar (“Casa”). “Ele vem do sertão profundo de
Pernambuco. Então, esta é uma paisagem muito natural para ele, que nunca
viu as locações com olhos estrangeiros, com uma estética estilizada.
Isso foi muito importante. A nossa parceria foi espetacular.” E, embora rodado na Bahia, esta é uma produção paulista. Antes das filmagens, SOL
passou por um longo processo de amadurecimento e preparação. Além do
trabalho com o elenco, Politi e a equipe fizeram uma pesquisa grande in loco, ao estudarem profundamente as locações e o universo de cada personagem, com muita antecedência. “A
gente se preparou tanto que, na hora de filmar, pudemos nos despojar de
tudo. Estava tudo tão dentro de nós que tudo acabou sendo muito
natural, fluido e intuitivo. Creio que isso está bem impresso no filme.” Além disso, a diretora complementa que a direção de arte foi fundamental na construção de seu longa: “Está
também, claro, a serviço desta narrativa. A Mariana Hermann, diretora
de arte, também fez o processo de mergulho no universo local e tudo o
que se vê no filme vem dali, daquele universo. Um trabalho minucioso,
genial.”. Com o elenco, não foi diferente. “A
gente ensaiou muito, antes, para encontrar o tom. Mas quando se chega
no set preparado, a gente fica aberto ao que o set nos dá. E é assim que
a mágica acontece. Há muitas cenas do filme que foram assim.”. Politi
conta que um dos elementos-chave do filme é o silêncio. Theodoro
praticamente não fala, enquanto Theo fala pouco. Já Duda, como uma
criança curiosa e inteligente, fala bastante, mas precisa lidar com o
não-dito dos adultos. “Escolher um protagonista que fala pouco ou
quase não fala, é duro. Rômulo traz naturalmente uma introspecção que é
poderosa. Ele dá ao personagem a natureza dos conflitos internos e a
gente entende isso, entende os motivos do personagem. Sem contar que a
troca dele com o Everaldo e com a Malu foi incrível. Ele foi
estabelecendo uma relação com eles muito interessante, pois também
precisava se isolar, para o bem da história, e se aproximava na hora
certa. Ele tem uma inteligência emocional muito rara.”. SOL será lançado no Brasil no primeiro trimestre de 2022, pela Paris Filmes. |
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