URUBUS, dirigido por Claudio Borrelli, fez
sua estreia nacional na 45ª. Mostra Internacional de Cinema em São
Paulo, acaba de ganhar os prêmios de Melhor Filme Brasileiro Prêmio da
Crítica e Melhor Filme Brasileiro Prêmio do Público. Sobre o filme URUBUS,
primeiro longa-metragem dirigido por Claudio Borrelli, tem ao centro o
universo dos pichadores da cidade de São Paulo. O longa, que já passou
por diversos festivais pelo mundo, agora, fez sua estreia nacional na
45a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, e conta com a
participação do pichador e artista plástico CRIPTA Djan em diversos
elementos do filme – a começar por sua gênese. Borrelli o conheceu em
2008, quando estava sendo feito um documentário com o rapaz, “Pixo”. A
produção executiva do longa é assinada por Fernando Meirelles e Julia
Tavares. “Começamos
a conversar. Com o tempo a frequência dessas conversas foi aumentando,
e a desconfiança (que era uma característica marcante do Djan) foi se
transformando em amizade. Eu perguntei se ele conseguia colocar a
história de vida dele no papel, e ele me trouxe uma página na qual já
existia uma narrativa forte e emocionante. Então resolvemos comprar os
direitos dessa história, que ele depois transformou nas 96 páginas que
serviram de inspiração para URUBUS.” O
filme tem como protagonista o jovem Trinchas (Gustavo Garcez), que
comanda um grupo de pichadores, cuja vida irá se transformar ao conhecer
Valéria (Bella Camero), estudante de arte, que acaba de se mudar para
São Paulo. Pouco depois, juntos, participam da invasão da Bienal de Arte
de São Paulo, onde os pichadores pretendem deixar sua arte e sua marca.
A partir desse ato polêmico, os jovens da periferia se tornam o centro
de uma discussão sobre o que é a arte. Borrelli,
que tem longa experiência em publicidade, conta que pretendia dar
protagonismo a essas figuras urbanas, e o longa consegue mostrar o ser
humano que existe por trás do pichador. “A grande maioria da
população odeia a pichação e não enxerga o pichador – uma pessoa que
vive, trabalha, luta e sangra como as outras. É importante que o Brasil
veja que esses são adolescentes como os outros, fazendo uma arte de rua
original, que não é inspirada em nada, não ‘estava’ nas revistas, nas
galerias e nos livros de arte. E que é uma arte criada em São Paulo, tão
Brasileira quanto o samba, e ainda discriminada como o samba já foi.” A partir disso e do encontro com CRIPTA Djan, nasce URUBUS.
O artista já registrava as ações dos pichadores em DVDs caseiros, aos
quais Borrelli teve acesso, e descobriu neles um novo mundo e serviu de
base para o longa. “Não poderia fazer uma pesquisa melhor, porque os
DVDs continham tudo: as roupas, a mistura das tintas, as músicas, as
festas e, o mais impressionante: as escaladas. Depois que desenvolvemos o
primeiro tratamento do roteiros, em 2010, fiz dois pequenos
documentários: um com o Djan, outro com a Caroline Pivetta. Isso só para
saciar a minha ansiedade de filmar, porque continuam inéditos e assim
permanecerão.” A participação de CRIPTA Djan no roteiro foi fundamental, ressalta Borrelli. “Só
ele conhecia os personagens verdadeiros a fundo, já que foi totalmente
inspirado na vida dele. E, ao meu ver, toda a parte ficcional – o
romance, o fato de Valeria ser estudante de arte e não pichadora, a
maneira que o Edu morre, o atropelo do caderno no point e muito mais –
só poderia existir se criada por ele, ou transformada por ele, ou
autorizada por ele. E ele também deu uma grande ajuda na linguagem dos
diálogos.” O texto final é assinado pela dupla Mercedes Gameiro e
Claudio Borrelli, em parceria com Djan Ivson e colaboração de Vera
Egito. CRIPTA
Djan, por sua vez, conta que a história que escreveu trazia elementos
de ficção, mas calcados em sua própria experiência. “Depois disso,
fiquei um ano trabalhando num texto já em formato de roteiro, com
diálogos e tudo. Eu vendi esse argumento para eles, e depois o Claudio
me convidou para fazer a 1a versão do roteiro. E, no final, fiz uma
revisão”. Ao todo, conta o artista, esse processo levou cerca de uma década. Para o elenco de URUBUS,
o diretor nunca considerou a ideia de trabalhar com atores
profissionais, e para preparar o elenco, contou com a experiência de
Fátima Toledo. E o resultado é um filme ficcional, mas com um quê de
documental graças à estética e às atuações. Como
diz o diretor, a câmera serve à interpretação dos atores e não o
contrário. Borrelli sabia que aqui não cabia uma estética
cinematográfica muito construída. Principalmente na fotografia, já que o
pixo tem como característica a crueza. E foi no lado mais ficcional que
o diretor imprimiu sua marca. Para
CRIPTA Djan, o longa sintetiza muito bem o que é a pichação como
movimento, a dinâmica do pixo na cidade e quem são os pichadores. E ele
ainda aponta que tudo foi feito de uma forma muito legítima. O
envolvimento do Claudio com ele e o movimento foi muito importante
porque o diretor passou a entender esse universo de perto. “Eu vejo URUBUS
como uma extensão de tudo o que fiz sobre o pixo no cinema. Agora, de
fato, esse é um trabalho artístico. O filme é de extrema importância,
não apenas para a pichação, mas também para o cinema brasileiro. Acho
que é uma grande contribuição. O filme é uma espécie de ‘Cidade de Deus’
de São Paulo. Não tem nada que melhor retrate a cidade do que a
pichação. É uma cultura muito forte aqui”, conclui Djan. Exibidos em diversos festivais ao redor do mundo, URUBUS coleciona
prêmios, como Melhor Filme e Atriz Coadjuvante (Bella Camero), no
British Independent Film Festival; Prêmio do Júri Narrative Feature
Film, Fabrique Du Cinéma Awards; LAIFF Winter Award – Winner, no Los
Angeles Independent Film Festival Awards; e Melhor diretor, no
Manchester International Film Festival. |
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