Longa-metragem mostra a complexidade e diversidade da cultura macapaense
Uma cultura múltipla e complexa em uma região com fortes influências indígena e negra, além da europeia. Esse é o retrato que faz o longa-metragem “Cartografia Sentimental Tucuju”, do diretor curitibano Cleber Braga, que estreia com exclusividade no Cine Passeio nesta próxima quinta-feira, 11 de Novembro, na Sala Vitória, destinada à programação on-line gratuita. O filme ficará em exibição por uma semana, até o dia 17.
O
público de Curitiba poderá conhecer diferentes artistas da cultura
tucuju por meio de uma “cartografia sentimental”, como o próprio título
sugere, termo criado pela autora brasileira Suely Rolnik, que pode ser
explicado como um mapeamento afetivo e serviu de inspiração para Braga
na criação do filme. “Eu acredito que a maior riqueza ali, apesar da
exuberância da natureza, é a humana. Isso me chamou a atenção desde o
início, o macapaense se interessa pelo outro, pelo diferente e o acolhe
carinhosamente”, observa. “Cada cena é consequência de uma história, de
um encontro, de um afeto, de uma admiração. E eu acho lamentável que o
Brasil desconheça histórias como essas”.
Tucuju
é uma etnia indígena que habitou o Amapá, contudo hoje o nome também é
utilizado para denominar quem nasce na região. “No caso do filme, o
termo funciona quase como um sinônimo para macapaense”, explica o
diretor.
Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=T32j-wKxDIA
Entre
os artistas apresentados estão Oneide Bastos e Paulinho Bastos,
respectivamente mãe e filho, membros de uma família composta por
músicos. Outros artistas que participam do filme são Ana Caroline e
Jones Barsou, da Casa Circo, primeiro grupo amapaense que participou do
evento Palco Giratório do Sesc, viajando por todo país.
Mas
também são mostrados outros modos de criações culturais, como na
participação de Maria Trindade, uma ativista pelo direito das mulheres
escalpeladas - que têm o couro cabeludo arrancado, geralmente quando
crianças, pelos motores dos barcos. “Conheci Trindade porque buscava por
uma costureira. Quando entrei em seu ateliê e a vi fazendo perucas,
perguntei para quem seriam. Ela me contou que recolhia doações de cabelo
e confeccionava perucas para doar para estas meninas, porque desejava
que elas nunca deixassem de se amar, de amar a vida. Trindade traduz
essa força do povo Tucuju, essa generosidade e alegria, como pode ser
visto em seu relato no filme”, conta o artista.
Diferenças e semelhanças de uma multiplicidade chamada Brasil
“Cartografia
Sentimental Tucuju” é a primeira obra audiovisual do professor,
produtor e diretor teatral Cleber Braga, produzida depois de um hiato
artístico para a realização de seu doutorado em Cultura e Sociedade pela
Universidade Federal da Bahia. Voltado ao teatro, ele iniciou seu
trabalho em Curitiba no início dos anos 2000, quando criou o coletivo
artístico “O Elenco de Ouro”, que chegou a fazer apresentações pela
Europa e América Latina. Em 2016, chegou a Macapá para ser professor da
Universidade Federal do Amapá, onde se deparou com uma cultura
brasileira que até então desconhecia.
“A
experiência de viver no Norte do país, na Amazônia, teve um impacto
decisivo na minha vida. Fez-me e faz-me questionar o modo como narramos o
Brasil desde determinadas regiões, determinadas realidades, como se
aquilo fosse o todo. Não é. Basta olhar o mapa para constatar a
diferença de tamanho entre os estados do Sul e do Norte. A Amazônia é um
mundo!”, define Cleber Braga.
O
diretor lembra-se de como Curitiba foge do imaginário do Brasil
festivo, caloroso, tropical, paradisíaco - o que também ajuda a mostrar
como o Brasil vai além dos estereótipos. “O Paraná é muito mais do que o
discurso nostálgico sobre a colonização europeia. Indígenas, negros,
árabes, ciganos, japoneses, entre tantos outros povos, fazem este lugar,
são o Paraná, ainda que as narrativas oficiais sigam fazendo seu
apagamento”, considera.
Mesmo
com tantas diferenças culturais, ele avalia que o Paraná e o Amapá são
mais semelhantes do que podemos imaginar. “Eles são o Brasil, eles
compõem o Brasil em toda sua multiplicidade. Isso só não é tão
perceptível porque as marcas coloniais do racismo ainda impedem uma
compreensão mais ampla sobre nós mesmos. E nós temos o dever de romper
este ciclo”, afirma. “Por isso esse filme, essa cartografia sentimental,
essa partilha e esse convite para entendermos mais o que somos como
país, para além de estereótipos”, pontua o diretor.
Além de um documentário
Embora
possa parecer um documentário, Cleber Braga afirma que não é possível
definir “Cartografia Sentimental Tucuju” em nenhum gênero
cinematográfico. “Assim como em um jogo, cada uma dessas pessoas foi
convidada a propor uma ação de curta duração. O resultado é um conjunto
de performances, cenas, números musicais, etc, sem uma linguagem
artística definida”, explica Braga, ao aproximar a obra da ideia de
cabaré. “Minha pesquisa e prática artística no teatro é marcada pela
experiência do cabaré - um gênero espetacular que tem, como uma de suas
características, a diminuição da fronteira entre arte e vida.”
O
filme foi idealizado durante a pandemia e realizado em parceria com o
coletivo audiovisual Tenebroso Crew. As gravações ocorreram no mês de
julho de 2021, no espaço multicultural Céu das Artes de Macapá, seguindo
todos os protocolos de segurança. A produção ainda conta com trilha
sonora de Paulinho Bastos, produção executiva de Paulo Rocha e
administração da OCA Produções. A obra foi realizada com fundos da Lei
Aldir Blanc (SECULT/AP) e em parceria com o Programa de Cultura da
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
SERVIÇO: Estreia do filme “Cartografia Sentimental Tucuju”
Data: 11 de Novembro
Onde: Sala Virtual Vitória, no site do Cine Passeio - www.cinepasseio.org
Mais informações: Trailer: www.youtube.com/watch?v=T32j-wKxDIA
Instagram: @cartografiasentimentaltucuju
Facebook: www.facebook.com/cartografiasentimentaltucuju
Site: www.sites.google.com/view/cartografiasentimentaltucuju
FICHA TÉCNICA
Concepção e direção artística: Cleber Braga
Captação e direção audiovisual: Tenebroso Crew
Trilha sonora original: Paulinho Bastos
Produção Executiva: Paulo Rocha
Administração: OCA Produções
Elenco:
Cleber Braga
Albert Cordeiro
Cristiana Nogueira
Lylian Rodrigues
Piedade Videira
Ana Caroline
Jéssica Thaís
Laura Silva (Laura do Marabaixo)
Maniva Venenosa: Igor Vasconcelos Pantoja, Priscila Danielle França Costa de Araújo, Rodrigo Góes Pereira e Miqueas Alves Pinto
Maria Trindade Gomes
Jones Barsou
Pretogonista
Mc Deeh
Luiz Henrique Oliveira (Luizinho D’OSUN)
Jorge Alberto (Pai Poca Ty Ayra)
Luiz Iago(Pai Iago Ty iroco)
Rafael Saldanha (Rafa Ty Yemonja)
Nau Vegar
Carla Antunes
Karina Mateus
Loran da Silva Ferreira
Oneide Bastos
Paulo Bastos.
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