Mostravídeo Itaú Cultural abre a programação de 2010 com novo formato curatorial
João Dumans e Andre Costa irão se intercalar mensalmente na curadoria estabelecendo um diálogo entre o eixo curatorial das programações da Mostravídeo deste ano; Dumans assina o programa de Abril, Narrativas à Deriva, com 10 obras de cineastas, vídeo-artistas e documentaristas brasileiros e do exterior.
Em abril, o Itaú Cultural inaugura a programação deste ano da Mostravídeo em Curitiba e em Belo Horizonte. Ela será exibida, respectivamente, no Paço da Liberdade Sesc Paraná, todas as quintas-feiras a partir do dia 1º , e na Sala Humberto Mauro, do Palácio das Artes em Belo Horizonte, às quartas-feiras desde o dia 7. Desta vez a curadoria da programação será assinada durante todo o ano por dois curadores: o pesquisador de cinema João Dumans, e o cineasta-documentarista Andre Costa, que irão se revesar na seleção dos filmes a cada mês. Curador da primeira programação, Dumans a intitulou Narrativas à Deriva. Entre os filmes selecionados por ele aparece em comum a tentativa dos diretores se posicionarem por meio de um olhar estrangeiro, tanto na primeira pessoa quanto como personagens à deriva que não pertencem ao ambiente que os cerca.
No limite entre o cinema e as artes plásticas, entre a invenção e o registro documental, entre a realidade e as paisagens de sonhos, os filmes desta sessão da Mostravídeo Itaú Cultural buscam caminhos de inovação formal sem abrir mão de contar suas estórias. Esta busca passa por uma necessidade quase natural, já que os trabalhos se situam à margem dos meios e modelos de produção consagrados às grandes narrativas do cinema. Sejam eles documentaristas, artistas plásticos ou mesmo cineastas, são de certa forma os próprios realizadores e suas imagens que se colocam aqui na condição de estrangeiros
Os diferentes formatos – cinema experimental, vídeo-arte, documentário – permitem que os curadores ampliem a discussão quanto a classificação dos filmes, para se focar em um debate mais simples e mais produtivo sobre o fazer cinema. “Nessa primeira programação, as questões em jogo são bem mais simples do que as ligadas às difíceis definições conceituais. Ela pode ser resumida um pouco na questão: como esses artistas e diretores, que não são ligados aos grandes esquemas de produção cinematográfica, contam suas histórias?”, explica Dumans.
Os filmes
Cada dia da programação aborda um diretor ou uma dupla diferente de diretores. No primeiro filme da mostra, Uma História do Vento(1988), o cineasta holandês Joris Ivens, e sua esposa Marceline Loridan Ivens, tentam filmar o invisível, fazendo uma fábula sobre o cinema repleta de referências à cultura chinesa. No segundo dia, o nova iorquino Jem Cohen, representado pelo filme Chaim(2004), mostra bem a mistura entre o documental e a ficção que costumam ocupar os filmes do diretor.
A mostra traz, ainda, filmes de duas duplas de cineastas. Os suecos Peter Fischli e David Weiss, mais conhecidos no meio das artes plásticas, estarão representados na mostra com os filmes The Right Way(1983) e The Point of Resistance(1981). Já os brasileiros residentes em Berlim Gustav Jahn e Melissa Dullius aparecem na sessão 4, que será exibida unicamente em Curitiba, no dia 22 de abril, com cinco filmes – três deles assinados em dupla – todos eles sobre viagens, abordando a estética do roadmovie ou diário de bordo.
A mostra de abril termina em ambas as cidades com um nome de destaque da arte contemporânea e, particularmente, da performance. A norte-americana Joan Jonas se destacou no cenário artístico dos anos 60 e é apontada como uma das pioneiras na mistura de vídeo-arte e performance. O público terá acesso a duas dessas performances filmadas: I Want to Live in the Country (And Othes Romances) (1975), em que aparecem trechos de um diário de viagem pessoal da artista; e Volcano Saga (1989), em que ela encena uma lenda islâmica do século XIII.
Mostravídeo
Projeto do Itaú Cultural, a Mostravídeo sempre apresenta uma programação permanente de exibição de filmes e vídeos que representem conceitualmente as mais instigantes produções nacionais e internacionais em meios audiovisuais (cinema, vídeo e novas mídias). Desde 1997 este projeto mantém-se perene, fiel ao seu público e possibilita aos realizadores um espaço de exibição qualificado. Neste ano será realizado simultaneamente em Belo Horizonte e em Curitiba e com mudanças no formato curatorial. Será estabelecido um diálogo entre os dois curadores, João Dumans e Andre Costa, de modo a permitir que os assuntos levantados não se esgotem a cada nova programação. De fato, eles permitirão a realização de um ciclo de discussões mais constante e , ainda sim, livre e aberto às mudanças de percurso diante do contato com o público.
“Esperamos que a mobilização e o diálogo entre repertórios e trajetórias de pesquisa distintos dos curadores possam promover um espaço de reflexão sobre o lugar das imagens em movimento com o advento e proliferação do uso das novas mídias”, observa Andre Costa que assinará a programação de maio. “A Mostravídeo, que antes parecia atender a uma demarcação da especificidade do vídeo frente ao cinema, pode ser uma oportunidade interessante de sondar os limites desta convergência entre suportes técnicos, linguagem e circuitos de fruição, verificando afinal o que temos de novo no que poderíamos chamar de experiência do cinema, seja por qual mídia esta se apresente“, conclui.
Ele e Dumans debateram entre si e levantaram questões interessantes a respeito do perfil da mostra e do que querem em relação a ela. “Decidimos uma espécie de tópico em comum para o ano, que é pensar um pouco o cinema como essa grande caixa de ressonância e transformação das imagens do mundo, venham elas do documentário, das artes plásticas ou da chamada vídeoarte”, conta Dumans. De acordo com ele, a dupla pretende investigar as transformações sofridas pelo cinema (tanto os filmes quanto a própria instituição cinematográfica) nos últimos anos. “Vamos investigar, por exemplo, o cinema experimental não mais sob a ótica do vídeo ou da vídeoarte, mas sob a ótica do cinema, simplesmente. Não é de forma nenhuma uma discussão nova, mas a Mostravídeo pode ser um bom lugar para capturar alguns de seus efeitos práticos, ou seja, bons filmes”, comenta.
Como aconteceu no ano passado, o público poderá conferir no blog (www.mostravideoitaucultural.wordpress.com) textos inéditos sobre a programação. Graças à interatividade do site o debate proposto pelos curadores cada novo programa será enriquecido pela participação dos internautas.
Biografia dos curadores
Andre Costa
Cineasta-documentarista e pesquisador de arquitetura e urbanismo, audiovisual e educação. Professor universitário de Cinema e Televisão na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), e da Faculdade de Comunicação Social e da pós-graduação na área de Criação Visual e Multimídia na USJT. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP, atua como assessor pedagógico, consultor e formador audiovisual em diversos projetos sócio-educativos que utilizam esta linguagem como ferramenta educativa e de transformação social. É sócio da Olhar Periférico Filmes. Atua também como curador e júri de festivais de cinema e vídeo. Foi membro do Comitê de Programação e Seleção do 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil. Escreveu diversos artigos e foi co-autor de livros sobre vídeo, cinema e educação audiovisual. Foi membro da Comissão Julgadora de Projetos Cinematográficos da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura em 2009.
João Dumans
Pesquisador de cinema, foi programador do Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes e curador do Cineclube Curta Circuito, da Associação Curta Minas. Participou de comissões de seleção e programação de festivais como o Forum.doc.bh e o Festival Internacional de Curtas Metragens de Belo Horizonte. Foi assistente de direção do filme Os Residentes, de Tiago Mata Machado, do qual também é produtor. Trabalha atualmente no desenvolvimento de roteiro de longa-metragem do diretor Marcelo Gomes.
PROGRAMAÇÃO DE ABRIL - NARRATIVAS À DERIVA
Sessão 1: Joris Ivens
Curitiba: 1 de abril, quinta-feira, 19h30
Belo Horizonte: 7 de abril, quarta-feira, 19h30
Uma História do Vento
Joris Ivens e Marceline Loridan Ivens Fra/Ing/Ale/Hol, 1988, 75’
Depois de “Pour le Mistral”, o cineasta holandês parte novamente em sua jornada para filmar o invisível, desta vez na companhia de sua mulher, Marceline Loridan. No filme, Ivens atravessa a China ao lado de sua equipe na tentativa de capturar a imagem do vento. A viagem, permeada por referências à cultura chinesa e ao cinema, converte-se numa fábula mágica que evoca tanto a fragilidade da vida quanto as transformações sociais e políticas do mundo contemporâneo.
O diretor nas palavras do curador:
Ele dedicou boa parte de sua extensa carreira a registrar o trabalho humano, tendo sempre em vista suas implicações sociais e políticas, e dedicou-se em seu último filme a dar um testemunho de seu próprio ofício. Não surpreende, assim, que tenha escolhido para representá-lo uma tarefa tão curiosa quanto filmar o vento. Primeiro porque sua dedicação militante ao universo do trabalho o conduziu espontaneamente a uma paixão pelos elementos e fenômenos naturais: a terra, sobretudo, mas também o mar, os rios, o vento, o fogo, a chuva. Depois porque, para ele, filmar sempre significou menos captar com fidelidade cega os acontecimentos do que transmitir, por meio das imagens, a sensação daqueles que os presenciam. Em seu último documentário, com a parceria bastante presente e influente de sua mulher, Marceline Loridan, Ivens constrói uma fábula sobre o cinema.
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Telefones(11)2168-1776/1777
www.itaucultural.org.br
atendimento@itaucultural.org.br
Continua em outro post.
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