“A motivação inicial do projeto era tratar da injustiça social”, conta o diretor Iberê Carvalho (“O Último Cine Drive-in”) sobre seu mais novo longa O HOMEM CORDIAL,
que chega aos cinemas em 11 de maio, com distribuição da O2 Play, que
divulga o seu trailer oficial. O filme é uma coprodução entre a
Quartinho Direções Artísticas, Acere, Pavirada Filmes e Momento Filmes.
Em Gramado, ganhou prêmio de Melhor Ator (Paulo Miklos) e Trilha
Musical. A sua estreia internacional aconteceu no Cairo International
Film Festival. O
longa traz como protagonista o músico e ator Paulo Miklos,
interpretando o líder de uma banda de rock fictícia, Instinto Radical, e
que traz em suas músicas questões sociais. Ela foi concebida como se
fosse uma das muitas bandas de rock que fizeram sucesso nos anos 1980 e
1990 no Brasil. Para isso, era preciso criar músicas de poucos acordes,
refrão de fácil assimilação e um discurso político um tanto quanto
ingênuo. Afinal de contas, a maioria das bandas de rock desse período
era composta por adolescentes brancos, de classe média ou média-alta,
que tinham o privilégio de poder falar o que queriam, pois o Brasil já
estava saindo do período ditatorial. Aurélio
(Miklos) se envolve num incidente, no qual um policial acaba morto e um
vídeo viraliza na internet. No início da trama, não sabemos muito bem o
que realmente, mas o músico se torna alvo de um julgamento e
cancelamento na internet, colocando até mesmo sua vida em risco. “As
redes sociais são o ambiente perfeito para que ocorra o efeito manada,
ou seja, quando um grupo de indivíduos segue a opinião ou ação de outros
de forma irracional, sem analisar os fatos e fundamentos. No filme,
vemos como cada comentário, cada postagem, cada curtida ou
compartilhamento em uma fake news tem um impacto direto na vida de
alguém no mundo real. E esse impacto se potencializa dependendo de que
grupo social ou étnico você pertence”, explica o diretor Iberê Carvalho. Sociólogo
por formação, Iberê escreveu o roteiro em parceria com o uruguaio Pablo
Stoll (“Whisky”), e o que os guiava era o desejo de escrever uma
história que se passasse em uma única noite e que levantasse questões,
de forma crítica, sobre a sociedade brasileira atual, e percebeu que de
alguma maneira as situações que estávamos trazendo no roteiro do filme,
dialogavam com o conceito de O HOMEM CORDIAL, criado por Sérgio Buarque de Holanda no livro “Raízes do Brasil”, publicado em 1936. O HOMEM CORDIAL,
ao contrário do que muitos pensam, não se refere a uma característica
amável e gentil de nós brasileiros. Sérgio Buarque se referia à Cordial
(palavra que vem de Cordis, que em latin significa coração) como um
sujeito passional, que age pelo afeto, e esses afetos acabam mascarando
as relações de conflito e de extrema violência de nossa sociedade. O
título é uma provocação crítica e um convite para uma reflexão sobre
nossa identidade. O outro tema central do filme entra logo em seguida em cena, quando se descobre que o incidente também envolve um garoto negro. “O HOMEM CORDIAL
tem como um de seus temas principais o racismo, a partir de um ponto de
vista que busca discutir a branquitude como uma raça. Discutir a
branquitude me parece fundamental dentro de uma postura antirracista. E a
polícia, no Brasil, é a instituição criada para garantir, com o uso da
força, o privilégio da branquitude”, completa o diretor. Para
escrever o filme, os roteiristas pesquisaram sobre a origem e os casos
contemporâneos de linchamentos (virtuais e/ou físicos), sobre os casos
de violência policial que tiveram crianças como vítimas, sobre o racismo
estrutural e também sobre o rock brasileiro dos anos 1980. “No
Brasil, que teve sua formação social e econômica profundamente marcada
pela escravidão, é impossível falar de desigualdade social sem tocar na
questão racial. Eu diria que a questão racial é o tema principal de O HOMEM CORDIAL.
Contudo, como eu, um homem branco, poderia tratar desse tema? Ora, a
questão racial é sim uma questão que precisa ser tratada pelos brancos.
Afinal, o racismo é cometido, geralmente, por quem?”. Pablo
Stoll, que tem uma relação bem próxima com o Brasil, conta que fazer o
filme foi um desafio, mas, desde o início, sabiam bem sobre o que
queriam falar: o crescimento do discurso de ódio na sociedade. Eles
tinham uma versão do roteiro praticamente pronta, quando surgiu um vídeo
do músico Chico Buarque sendo assediado em um restaurante, e, nesse
episódio, encontraram o filme. “Jogamos
fora o outro roteiro e começamos a escrever um novo, baseado na jornada
de uma noite de um ‘homem cordial’ que não consegue acreditar no que
sua cidade, seu país, se tornou. Uma viagem por um inferno em que está
submerso e que se revela envolvente e insondável. Já o filme, graças à
direção de Iberê, cresceu bastante com as tomadas de decisão que só um
grande diretor faria”, explica o uruguaio. Paulo Miklos foi outra parceria fundamental para a existência de O HOMEM CORDIAL. “Paulo
tem escuta, é sincero, muito disponível e generoso com os colegas de
cena. Nas cenas de música, foi muito bonito ver como Paulo se transforma
completamente quando sobe num palco segurando uma guitarra. São mais de
40 anos de experiência com uma das maiores bandas de Rock do Brasil de
todos os tempos. Todo esse passado está impresso no filme com uma
potência impressionante”, diz Carvalho. No filme, outro elemento importante é a cidade de São Paulo, que entra quase como uma personagem aqui. “Nosso
protagonista vive a sensação de estar constantemente sendo observado e
julgado. A cidade de São Paulo, com todos seus edifícios, veículos e
transeuntes representa uma ameaça a Aurélio. Além disso, a história
precisava de uma grande metrópole que nunca dorme e que possibilitasse
uma estrutura de road movie, onde a jornada vai se desenrolando pela
cidade e vai, a cada encontro, apresentando situações que só uma cidade
como São Paulo poderia proporcionar.” Na
fotografia, assinada por Pablo Baião, o diretor desenvolveu o conceito
de câmera do filme que é muito diferente de tudo que havia experimentado
até aqui em sua carreira. “A câmera na mão, operada de forma
magistral pelo Pablo, tem uma proposta de nos dar a sensação de que nada
do que vemos em tela foi ensaiado ou planejado. É uma câmera que,
sobretudo na primeira metade do filme, tem sempre o protagonista em
quadro. Como um algoz que vigia cada um de seus passos, esperando por um
deslize, por algo que possa usar contra ele.” Lançando o filme naquele que define como “um país pós-trauma”, Iberê destaca que, nos últimos tempos, “vivemos
um período de normalização da barbárie. Um momento onde a violência,
que sempre existiu de forma velada, ganhou status de discurso público e,
em alguns casos, até de política de Estado. E é nesse contexto, de
barbárie, que ocorrem os linchamentos. Qual papel de cada um de nós
nessa cultura do linchamento? Será que basta meu engajamento nas redes
sociais? Será que tenho tido uma atitude antirracista no meu dia a dia?
Enfim, acredito que o filme pode estimular a reflexão sobre nosso
comportamento nesse momento de reconstrução da civilidade, dos direitos
humanos e da democracia”. O HOMEM CORDIAL será lançado no Brasil pela O2 Play. Sinopse Aurélio
é vocalista de uma famosa banda de rock que fez muito sucesso até o
final dos anos 1990. Na noite de retorno de sua banda aos palcos,
viraliza na internet um vídeo que o envolve na morte de um policial
militar. Ninguém sabe o que de fato aconteceu, mas o astro passa a ser
alvo de grupos radicais. Aurélio, então, se vê inserido em uma tensa e
violenta jornada pelas ruas de São Paulo. Durante uma única noite,
encontrará figuras importantes de sua carreira e Helena, uma jovem
jornalista determinada a descobrir o que realmente aconteceu. Ficha Técnica Direção: Iberê Carvalho Roteiro: Pablo Stoll e Iberê Carvalho Produção: Quartinho Direções Artísticas, Pavirada Filmes, Acere e Momento Filmes Produtores: Maíra Carvalho, Rodrigo Sarti Werthein, Rune Tavares e Iberê Carvalho Produção Executiva: Rune Tavares, Camila Ciolim e Rodrigo Sarti Werthein Fotografia: Pablo Baião Direção de Arte: Maíra Carvalho Som: Daniel Turini, Fernando Henna e Henrique Chiurciu Montagem: Nina Galanternick Som direto: Marcos Manna Figurino: Eduardo Barón e Vinicius Couto Maquiagem: Vanessa Barone Elenco: Paulo
Miklos, Thaíde, Dandara de Morais, Thalles Cabral, Theo Werneck,
Fernanda Rocha, Bruno Torres, Murilo Grossi, Mauro Shames, Felipe Kenji,
Tamirys O’Hanna, André Deca País: Brasil Ano: 2019 Duração: 83 minutos Sobre Iberê Carvalho O HOMEM CORDIAL
é o segundo longa-metragem do premiado diretor Iberê Carvalho. "O
Último Cine Drive-in" (2015) foi eleito melhor filme brasileiro do ano
pela Folha de S.Paulo. Entre outros, recebeu os prêmios de Melhor Filme
no 18º Punta del Este International Film Festival, Prêmio da Crítica de
Melhor Filme no 43º Festival Internacional de Gramado, Melhor Ator,
Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Direção de Arte. Melhor Filme pelo
Público do Festival Cine Las Americas, no Texas. Também participou dos
festivais de Chicago, Beijing e Marselle. Como curtametragista, recebeu o
prêmio de Melhor Curta no 31º Festival del Nuevo Cine Latinoamericano
de Havana e o prêmio Cartoon Network de melhor Curta Infantil no Prix
Jeunesse Latino-Americano. Sobre a Produção O
filme é uma coprodução entre a Quartinho Direções Artísticas, Acere,
Pavirada Filmes e Momento Filmes. É fruto de uma parceria de 15 anos
entre estas produtoras que juntas somam dezenas de filmes de ficção e
documentários. Suas obras foram exibidas nos festivais de Toulouse,
Paris, Tóquio, Amsterdam, Hawaii, Atenas, Bruxelas, Los Angeles,
Seattle, Houston, Montevideo, Havana, Mazatlan, Caracas, Barcelona,
Valência, San Sebastian, Londres, Bilbao, Lisboa, entre outros. Entre as
suas recentes produções, destacam-se: "Entre Idas e Vindas", de José
Eduardo Belmonte; "A Sombra do Pai", de Gabriela Amaral Almeida,
coproduzido pela RT Features; o documentário "Mobília em Casa-Móveis
Coloniais de Acaju e a Cidade", de José Eduardo Belmonte; "O Fim e os
Meios", de Murilo Salles; e "O Último Cine Drive-In", de Iberê Carvalho.
Entre seus futuros projetos destacam-se "Quase Deserto", de José
Eduardo Belmonte, e "A Fúria", de Ruy Guerra. Sobre a Distribuidora O2 Play A
O2 Play é dirigida por Igor Kupstas, sob a tutela de Paulo Morelli,
sócio da O2 Filmes. A distribuidora faz parte do grupo O2, que também
tem como sócios o cineasta Fernando Meirelles e a produtora Andrea
Barata Ribeiro. Em atividade desde 2013, a O2 Play se diferencia das
demais distribuidoras por trabalhar, além do cinema, TV e vendas
internacionais, o VOD (Video on Demand) – licenciando conteúdo para além
de 30 plataformas digitais. Já foram mais de 50 filmes lançados em
cinemas, entre títulos brasileiros premiados, como “Sócrates” e “Chorão -
Marginal Alado”, e internacionais, em parceria com a Netflix, como "O
Irlandês", "Dois Papas”, "Não Olhe Para Cima”, “Bardo” e “Pinóquio por
Guillermo Del Toro” – estes dois últimos indicados ao Oscar® 2023. A
lista de longas ainda inclui parcerias com a MUBI: "Annette", que abriu o
Festival de Cannes 2021 e conquistou o Prêmio de Melhor Direção,
“Crimes of the Future”, que estreou no Festival de Cannes 2022, o
vencedor do Oscar® 2022 de Melhor Filme Internacional "Drive My Car", o
vencedor do Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes 2022 “Holy
Spider”, o indicado ao Oscar® 2023 de Melhor Ator “Aftersun” e o
indicado ao Oscar® 2023 de Melhor Filme Internacional “Close |
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